Ismaeliglesias
Pizza, ah! a pizza. Algo tão especial que fico até envergonhado deste artigo, mas acredito que, mesmo como um desabafo, seja necessário.
De origem milenar, dizem que as primeiras experiências começaram quando moeram o trigo, então a mistura de trigo moído, adicionado água em assados uma pedra quente, e daí pra frente é só imaginar.
Mesmo na Itália existem muitos tipos de pizza, as finíssimas que se comem enroladas com as mãos, as napolitanas, mais famosas e até a pizza al taglio, com massa grossa, mais parecida com uma focaccia. Depois de assadas, ficam acondicionadas em assadeiras onde talham um pedaço do sabor escolhido pelo freguês e esquentadas numa chapa. A primeira vez que eu vi e comi, foi em Firenze em 1996, e na minha última viagem comi várias em Gênova, com espumante e tudo de direito, informal e deliciosa.
Mesmo com essa informalidade, a pizza é uma instituição, principalmente em Nápoles, onde em 1984 as pizzarias mais conceituadas se reuniram para definirem as regras para se reconhecer a VERDADEIRA PIZZA NAPOLITANA e torná-la DOC (Denominazione de Origene Controllata), com regras definidas pela Associazione Verace Pizza Napoletana (Associação da Verdadeira Pizza Napolitana).
Foram minuciosamente descritas todas as etapas para a elaboração; desde a receita e os ingredientes ideais a serem utilizados (farinha, tomates, queijo, manjericão, leveduras…), dimensões, aberta somente com as mãos, tipo de forno, temperatura do forno (430 a 480ºC), tempo de cozimento (60 a 90 segundos) , enfim, não uma padronização, senão todas seriam iguais, mas normas rígidas a serem seguidas.
Aqui no Brasil, já temos várias pizzarias autorizadas a fazer pizzas de acordo com essas regras. Há pouco tempo um amigo fez um forno DOC, por profissionais habilitados para isso, mas o preço é de pelo menos R$ 70.000.00!
Até duas décadas, existia um pequeno restaurante/pizzaria na Av. Brigadeiro Luiz Antonio nº 2609, o Giovanni, o italiano com cardápio de somente 4 ou 5 recheios de pizza, sem exceções e pronto.
Bem, hoje eu fico incrédulo (para não dizer enojado) com as “pizzas especiais” que a gente vê na maioria das pizzarias, mas, certamente nas Delivery, “pra viagem”.
Eu não sei, onde a falta de criatividade, conhecimento, competência, fazem esses proprietários de pizzarias elaborarem cardápios, no mínimo, indecentes.
Consegui elencar algumas dessas preciosidades.
Conhecimentos geográficos, e características das cidades/regiões/países:
PERUANA: bacon, cebola, muzzarela, presunto, palmito e calabresa.
País onde os pescados são predominantes, com o ceviche seu prato ícone e as batatas. Pergunte para alguém se ele é peruano, a resposta será: Más peruano que lãs papas!!! (mais peruano que as batatas).
POMPÉIA: Peito de peru defumado, palmito e muzzarela.
Imagino os perus voando sobre o Mar Tirreno e pousando nas palmeiras onde se extraem os palmitos para fazerem essas pizzas.
ITALIANA: Lombo ‘”canadense”, muzzarela, catupiry, bacon e champignon. Precisa explicação?
SIENA: Muzzarela, calabresa (Siena fica na Toscana e não na Calábria), palmito, champignon e manjericão.
FIRENZE: Calabresa moída (idem, fica na Toscana), catupiry, champignon, cheddar, cebola, orégano e azeitonas.
MÔNACO: Muzzarela, tomate seco, champignon, palmito, azeitona preta e orégano.
Imaginem num GP de Fórmula 1, o Príncipe de Mônaco, assistindo a corrida tomando um Champagne, acompanhado de uma porção de tomate seco, palmito, azeitonas e cogumelos…
FRANCESA: Peito de peru, champignon, muzzarela e azeitonas.
Um país com mais de 400 tipos de queijo e o pessoal vem com muzzarela, e otras cositas más, e trocando o champignon por cebola vamos para MILANO!
MILANO: Peito de peru, cebola, muzzarela, orégano e azeitonas. Só trocar a cebola por champignon, a gente vai de MILANO para a Francesa.
PARIGI (Paris): Muzzarela, calabresa, manjericão e parmesão.
Não tem um ingrediente típico francês, todos são italianos… Manjericão é o aroma da Itália, e da França o tomilho!
À LA VENEZZA: 4 QUEIJOS, MUZZARELA, calabresa, bacon, champignon, pimentão, tomate seco, cebola, orégano e azeitona.
O que quer dizer 4 queijos mais muzzarela? Sem dizer dos outros ingredientes que não tem nada a ver com a encantadora cidade.
Vocês acham pouco?
Vejam algumas extravagâncias, e sempre com massa fina e muito, mas muito recheio mesmo!
CHURRASCÃO: Filé de patinho, presunto, tomate, muzzarela e catupiry.
MISCA: Muzzarela, calabresa, bacon, alichi, champignon, tomate cebola, orégano e azeitona
HOT-DOG: Frango, salsicha, palmito, milho, muzzarela, batata e orégano. Alguém tem estômago para encarar?
X SALADA: Hamburguer, tomate, alface, presunto, muzzarela, orégano. Existe isso sim, acreditem.
FRANGO COM REQUEIJÃO (para mim, NOJENTA),: Frango desfiado, requeijão cremoso e orégano.
CORAÇÃO: Muzzarela, coração de frango e orégano, com opção para coração com caturipy! Isso machuca até o nosso coração.
BRASIL/BRASILEIRA: Brócolis, palmito, muzzarela/catupiry, orégano e azeitonas/substitua o palmito por milho!
Não vamos esqueçer das pizzas doces, como Ovo Maltine, Confete (isso mesmo, aqueles confeitos M&Ms), entre outras.
Em tempo: eu me recuso a escrever muzzarela com “ç”. O nome vem do italiano Mozzarela (pronúncia mutsarela), assim como pizza (pitsa), mas por aqui a pronúncia que pegou foi “mussarela”. Se fosse de origem indígena, tudo bem.
Excelente artigo sobre pizza.
Bela história.
Ansioso para ler novas pérolas.
Édson