UNPOLITE FOOD NAMES

20180414_164744
Livro de culinária dos Monastérios Espanhóis

Ismael Iglesias

Foi difícil escolher o nome deste artigo. Conforme os nomes eu pensava nos títulos, pornôs dishes, pratos com nomes esquisitos, mas nenhum correspondia adequadamente, então entendi que unpolite seria algo mais “polido”.

Curiosamente existem alguns pratos com nomes, no mínimo, curiosos, que ficaríamos encabulados de pronunciá-los sozinhos, sem estarem ligados a algo, mas que acabam ficando normal em se tratando da iguaria. Na verdade não somente pratos, mas também alguns restaurantes ou mesmo casas comerciais, como na minha cidade natal, Birigui, no estado de São Paulo, existia uma casa de secos e molhado chamada de CASA PINTÃO, que nada mais era que o sobrenome da família dos proprietários. Era muito normal e ninguém ficava vermelho quando a mãe da gente nos dizia na frente do seu pai, sua avó, visitas, etc….: “-Filho vai na Casa Pintão buscar 1 kg de arroz e 1 kg de farinha”.

São nomes que estão no linguajar diário das pessoas, mas que perdem o sentido pejorativo quando falado como se fosse um nome próprio. Então vamos a alguns.

Lugares com nomes interessantes:

CÚ DO PADRE, um bar que fica na esquina da Rua Padre Carvalho e a Praça do Omaguás, Largo da Batata em Pinheiros, SP, e por estar atrás da Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat, foi apelidado de Cú do Padre. Lugar simples que era tocado por dois irmãos e que depois da morte de um deles, um dos filhos administra o bar.

BAR DAS PUTAS, Sujinho. Localizado na esquinas das ruas Consolação e Maceió. Consolação, São Paulo. Famoso por suas enormes bistecas de boi, servida com salada de cebola e salada de repolho, pão e manteiga. O bar/restaurante iniciou as atividades na década de 60 e com o movimento intenso, os garçons não tinham tempo de ficar limpando as migalhas de pão que caiam no chão, daí o apelido de Sujinho, que futuramente ficou como o nome oficial. Como também naquela região as meninas da noite faziam ponto entre o Cemitério da Consolação e a Av. Paulista, também se refugiavam no bar quando o aparecia o camburão da polícia e se passavam por clientes ou acompanhantes dos clientes. Daí ficou conhecido como Bar das Putas.

FEIRA DA FODA: Realizado na freguesia de Pias, conselho de Monção, na região do Minho, em Portugal. O prato típico da feira é a Foda a Moda de Monção, ou Cordeiro a Moda de Monção. Trata-se de uma feira de “gado” ovino e caprino, com exposição dos produtores, além de implementos agrícolas e, obviamente vinhos e espumantes. O nome se deveu a antigamente os habitantes do burgo, redondezas, que não possuíam rebanho, se dirigia à feira para comprar o animal. Alguns produtores, para enganar os compradores, adicionavam muito sal na forragem dos animais para que bebessem muita água, e pareciam pesados, verdadeiramente gordos, porém o que existia era uma grande barriga d’água. Quando estes descobriam o embuste, diziam uma expressão típica: “Ah! que grande Foda!” Daí o prato popularizou-se com o nome de Foda a Moda de Monção. Na festa não é difícil encontrar o pessoal dizendo: “Oh Maria, já meteste a foda?”

CASA PINTÃO: Casa de secos e molhados antiga, que já falamos acima.

Pratos e bebidas com nomes interessantes:

PUNHETA DE BACALHAU: Petisco típico português, também conhecido em algumas regiões por espinheta de bacalhau, espinheta, de sem espinhos. O punheta vem da maneira de separar os espinhos do bacalhau envolvendo num pano e rolar com os punhos, uma vez que não é bem desfiado e sim do ato de somente separar as espinhar mesmo. A parte usada é o rabo e ocasionalmente as barrigas, porque não seria lógico utilizar o lombo que é uma parte nobre. A receita é com o bacalhau cru, após a dessalga, e temperado com azeite, vinagre, cebola fatiada, alho, pimenta do reino, azeitonas pretas e salsinha. Podem existir algumas variações conforma a região, mas esta é a básica.

ARROZ DE PUTA RICA: Este é daqueles pratos em que tem ao menos duas versões da sua criação, mas obviamente saiu de uma casa dos prazeres de Goiás. Uma interessante é de que uma das cafetinas queria conquistar um rico pretendente para uma das suas afilhadas, além de todo o conforto e dedicação usual dedicada aos clientes, foi até a cozinha e verificou com a cozinheira, Maria do Socorro, o que estava preparando para o dia. Era uma galinhada com Maria Isabel, então ela disse, isso é coisa de Puta Pobre, Misture os dois juntos e o que a gente tiver na despensa, porque tem que ser arroz de Puta Rica.

Nem vou falar a receita porque é aquela coisa que leva tudo: Além do arroz e os temperos, alho, cebola, óleo, pimenta, cúrcuma, vai coxas e sobre-coxas de franco, costelinhas defumadas, lingüiça, lombo, bacon, ervilhas, milho verde, salsinha, tudo que você achar saboroso.

ARROZ DE GRELHOS: É, aqui no Brasil essa palavra, popularmente nos remete a linguagem chula de clitóris, mas em Portugal simplesmente se refere a quase brotos ou folhas bem novas algo assim de nabos, couve, couve rábano, rabanetes ou mesmo mostarda. Por aqui não temos o costume de comer essas partes dos vegetais, mas são extremamentes saborosos.

Para se fazer este arroz não é muito diferente dos arrozes comuns, é só utilizar alho, cebola, banha e ou azeite, pimenta do reino se for o gosto, arroz Carolino ou outro grão curto como o cateto, sal e água.

20180416_164249
Arroz de grelhos de nabos com carapaus do livro de Maria de Lourdes Modesto
20180416_150402
Porra Antequerana, do Monastério de Antequera, região de Málaga

PORRA ANTEQUERANA: Prato do Monastério de Santa Clara de La Paz em Antequera, Málaga, mas que também é típico na região. O Monastério foi fundado no ano de 1603 por obra de Dna. Francisca de Navarrete y Osorio que destinou parra isso 89 996 reales. Esse Monastério se iniciou com apenas quatro religiosas vindas do convento de Estepa. É quase um Gaspacho elaborado com pão seco, azeite de oliva, alho, sal, tomates, pimentões e ovos.

20180416_150648
Receita da Porra Antequerana
20180416_163218
Continuação da receita

LICOR DE MERDA: Licor que teve seu nascimento em 1974 na cidade de Castanheda, noroeste de Coimbra, Portugal, quando este país passava por uma desordem política entre a esquerda e a direita. Foi criado por Luís Nuno Sérgio, para “homenagear” algumas autoridades políticas, ou seja, dá para imaginar a idoneidade escatológica deles. É elaborado com aguardente, leite, baunilha, canela, cacau, açúcar e cítricos.

VINHA DO PUTTO: Vinho português, que quer dizer criança! Produzido pelo produtor Campolardo, na região da Bairrada, elaborado com uvas Merlot, Syrah, Tinta Roriz e Touriga Nacional.

VINHOS QUINTA DO PINTO: Vinhos da região de Alenquer, distrito de Lisboa. São 58 hectares de vinhas portuguesas e francesas.

VINHOS QUINTA DA CABAÇA: Vinhos da região do Alentejo, Portugal, fundada em 1580 pertencente ao Morgado de Reguengo, mas que desde 2006 foi adquirida pela família Avillez. Elaborado com uvas Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet e Cinsault.

FORÇA NO PAU: Produzido em Lamego, Portugal, pela Adega Cooperativa de Penajoia C.R.I. região do Douro, com Touriga Nacional, Touriga Franca,l Tinta Roriz, Tinto Cão e Tinto Barroco

PORRAIS: Prodzido por Quinta dos Porrais, região do Douro, com cortes de Verdelho, Arinto de Bucelas, Loureiro, Rabigata e mais 5 castas.

FINCA LA PICA: Produzido com Tempranillo, pela Bodegas Valoria, na região de Rioja, Espanha.

ANUS: Considerado o melhor vinho dos Paises Baixos, que na boca lembra os Grand Crus de Borgonha. De produção limitada, restrito a períodos anuais.

CHÃO DAS ROLAS: Produzido na região de Setúbal, Portugal, por Herdade de Comporta. O tinto com uvas Sirrah, Alicante Bouchet,Aragonez, Castelão e Trincadeira, e o branco com Arinto de Bucelas, Fernão Pires e Antão Vaz.

CÚ DE BURRO: Nada mais é do que uma mistura de suco de limão com sal. É do tipo ama ou detesta, usualmente tomado com cerveja ou cachaça, obviamente não das especiais, ou com petiscos gordurosos.

SOBRECÚ, ou curanchim ou sambiquira ou uropígio. É a última parte da coluna vertebral do frango ou da galinha, que há quem brigue na mesa para conseguir essa parte. Atualmente já é vendida separada para deleite dos apreciadores.

PUTANESCA: Molho italiano para massas originário da região de Nápoles, com pelo menos duas versões para a sua origem. Uma delas seria que, como é um molho rápido para ser elaborado, ao contrário dos ragus que levam horas, as mulheres poderiam saiam para trair os maridos e dava tempo das putanas voltarem para as suas casas e fazer a comida para os maridos. A outra versão é de que teria surgido nas casas da luz vermelha de Nápoles, daí o nome Putanesca. Já publicamos a receita, é um molho saboroso e potente, que leva azeite, alho, filés de alici, alcaparra, molho de tomates, azeitonas pretas e salsinha, usualmente usado para acompanhar spaghetti.

 

Visited 1 times, 1 visit(s) today

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *